quinta-feira, 25 de maio de 2023

O Culto à Magreza de volta à moda?


A verdade é que infelizmente o culto à magreza nunca saiu de moda. Segue o fio…

Desde que as mídias sociais se estabeleceram, houve espaço para debates e questionamento de comportamento social e identitário. O ambiente da internet nos primórdios das redes sociais era de troca e crescimento coletivo. Até a página dois. 

Porque no momento em que as marcas entram nesses espaços, claramente com o objetivo de lucrar e ampliar suas conexões, elas logo tratam de adequar seu discurso nas plataformas. Afinal, quem não surfa na onda leva caixote. 

Sabendo-se que as plataformas cresceram exponencialmente devido ao engajamento de seus usuários e principalmente pelo financiamento publicitário dos anunciantes, é importante entender que a partir daí, as plataformas fatalmente modificarão suas estratégias para empurrar o discurso de quem enche o cofrinho. $$$ Porque no sistema capitalista, quem detém o  poder, é quem tem o dinheiro.

E assim nasce o culto à magreza! O maior esquema de lucratividade através da insatisfação pessoal. E isso faz a gente pensar em algumas questões.


Por que será que as marcas ainda insistem na produção de uma moda excludente?

Simples. Porque pessoas insatisfeitas com seus corpos consomem mais. Seja para se sentirem pertencentes ou menos excluídas. 

E principalmente porque não existe interesse real de romper com o modelo arcaico de produção que é praticado. Isso daria bastante trabalho, é verdade. 

Pra isso seria necessário qualificar profissionais, sair da bolha da moda que só enxerga o padrão e abandonar essa valorização teatral de marca. Seguir de fato à risca os discursos “inclusivos” praticados por essas marcas de ética questionável que vendem roupas tamanho 42/44 como plus size. Mas é claro que quem “compra valores” não quer ter todo esse trabalho. 

Do ponto de vista estratégico se manter no status quo é mais fácil para as marcas. Afinal, não se mexe em time que está ganhando não é mesmo? Mas se tem alguém ganhando, é porque tem alguém perdendo.

E somos nós. Corpos marginalizados e fora do padrão estético aceitável socialmente. Essa estratégia de retornar ao modelo de magreza trata nossas necessidades como consumidoras como um mero fetiche ou uma tendência passageira. E isso é cruel pra caramba!

Os corpos gordos sempre existiram. Assim como corpos com deficiência. Mesmo que a moda ignore nossas necessidades de consumo perpetuamente, a verdade é que nossa existência não deveria ser tratada como tendência.

Sorte minha ter comprado da última coleção porque a partir de agora meu corpo não tem mais o direito de se vestir?

Porque ainda estamos à mercê da narrativa desses interesses corporativos? 

Será que podemos depositar nossas esperanças em marcas que sejam mais justas com suas consumidoras e que desenvolvam roupas pensadas para esses corpos que são constantemente invisibilizados?

Nós acreditamos que para atender DE VERDADE nossos corpos é necessário entender e acomodar a existência de pessoas fora do padrão como uma realidade tangível e mensurável.  Nós precisamos de uma revolução na indústria da moda. No modo de pensar e de produzir.


E é isso que nós estamos tentando construir. Nossos valores são mais importantes do que nosso lucro. Sim, somos uma empresa. Sim, vivemos nesse sistema excludente. Mas não acreditamos em colocar lucratividade na frente da ética. Por isso, estamos criando uma marca que escuta e age nas dores de nossas consumidoras. Dores essas que são nossas também.

Queremos ser uma marca que constrói identi­dade de vestir com o seu próprio corpo. Que constrói beleza em sua natureza sem querer transformá-la para se adequar aos interesses do capital.

Não temos intenção de fazer fat washing aqui. Nossa proposta é verdadeira. Estamos cansadas do narcisismo da Anna Wintour (Se você não pegou a referência, a gente ajuda. Lembra da Miranda Priestly de “O Diabo veste Prada”? Então. É inspirada nela.) e do discurso de beleza de gigantes como a Vogue. 

Vamos construir juntas, peças que nos valorizem e que revelem nossa real identidade roubada por essa indústria da insatisfação.

Contem com a gente!

Sinceramente, Equipe Catwalk Plus

terça-feira, 9 de maio de 2023

Dia das Mães: Como conectar com o nosso público sem romantizar a maternidade?

O dia das mães é uma das datas comerciais mais importantes para alavancar vendas. Mas por ser uma data comercial, infelizmente os discursos utilizados para vender, na maioria das vezes se apoiam em estereótipos de modelos de maternagem funcional. E essa estratégia de vendas imposta pelo sistema socio econômico vigente atua de forma super cruel e injusta. Principalmente com mulheres.

E apesar de sermos uma marca de roupas, e uma empresa com fins lucrativos, sabemos o quanto essa data pode causar gatilhos em todes nós. Portanto elaborar uma campanha não romantizadora e alienante sobre a maternidade não foi nada fácil. Não queríamos ser clichês e negligenciar as dores associadas à maternidade. Essas dores também são nossas. Somos mulheres, mães e sabemos das dificuldades e imposições sociais que essa função nos coloca todos os dias.

Por isso fizemos questão de desconstruir esse modelo com um sarcasmo direto e ficamos muito entusiasmadas com o nosso resultado. A peça foi inspirada no filme Garotos de programa de 1991 (My own private Idaho) do diretor Gus Van Sant e no elenco temos o jovem Keanu Reeves e River Phoenix. 

O filme fala sobre um garoto de programa, vunerável que possui narcolepsia, uma disfunção neurológica que o leva a dormir em momentos de extremo estresse. O personagem possui uma vida à margem da sociedade. Ele é gay, morador de rua e culpabiliza sua exclusão social à ausência de uma família funcional. Especialmente pela figura paterna. 

Toda vez que a personagem se vê em uma situação de estresse, ele se refugia no seu inconsciente. No acalento do colo materno. Mesmo de forma desconexa, esse é o único recurso que ele encontra como artifício de sobrevivência e resistência. 


Esse filme sempre me tocou, não apenas pela sensível direção do Van Sant, ou pela incrível interpretaçāo do River Phoenix, mas por trazer a discussão do papel familiar na teia social. 

Ser mãe nesse sistema exploratório é isso, somos criaturas vulneráveis e fragilizadas em constante resistência. 

A maternidade coloca no colo da mulher uma carga desumana de responsabilidade social que deveria ser provida por uma rede de suporte coletiva. Nessa carga social individualizada, a maternidade é um ato de resistência e sobrevivência para continuidade da vida.

Assim como o personagem do filme foge para o insconsiente à procura de um colo onde se sinta confortável para expor sua fragilidade, nós também nos sentimos órfãs. 

Somos "abandonadas' nesse sistema onde os desafios e responsabilidade da continuidade da espécie são postos individual e exclusivamente nas mãos de nós mulheres, onde somos resignadas ao papel único de "mães". E lançadas à nossa sorte sem recursos ou voz para garantir a nossa própria existência e identidade.

Portanto nossa campanha quis mergulhar nessa narrativa, porque é a minha, ou melhor, a nossa experiência real de maternagem. 


 

Eu sei, ficou pesado, né? Mas essa reflexão é essencial para entendermos porque estamos sempre tão cansadas, sabe?

Então desejamos um bom dia das mães. E se não for possível, lembre-se que essa é apenas uma data comercial. 

E claro, se for viável, APOIE nossa marca para continuar seguindo em frente com nosso modelo de negócios. Feito por mulheres empreendedoras, tentando trazer mais ética e sustentabilidade na indústria da moda. Estamos tentando alavancar discussōes comuns às nossas dores reais, sem enfeites ou washing

Lembrem-se que vocês podem nos ajudar comprando na nossa loja, ou simplesmente engajando nas nossas ações nas mídias sociais. Vamos ampliar nossas vozes e nosso alcance!

Deixe também seu comentário nesse post e siga com a gente.

Equipe Catwalk.plus

 

sexta-feira, 5 de maio de 2023

Vancouver Fashion Week (Parte 2)

Essa é a segunda parte da série de posts da Vancouver Fashion Week. Você pode ler a primeira parte aqui.

Nos três primeiros desfiles não vimos representatividade plus size, o que nos faz refletir sobre o fato da indústria da moda enxergar corpos maiores como exceção e não parte da amostragem real de pessoas. Até aí nada de novo sob o sol. Mas o fato é que a agenda da inclusão parece estar sendo dissolvida pouco a pouco pela indústria da moda sem nenhuma cerimônia. Afinal, para uma REAL inclusão , a mudança teria de acontecer na infraestrutura da cadeia produtiva de desenvolvimento.  E isso custa caro operacionalmente falando. E vamos ser francos aqui... todos sabemos que quase ninguém está disposto a ter esse trabalho.

Por isso é importante apoiar e compras de pequenas marcas (como a nossa) que assumem esse compromisso. De bater de frente com a estrutura vigente e oferecer moda para todos. Nossa existência como marca por si só, vai contra todos os alicerces da indústria de moda. Isso porque nos recusamos a  tratar a nossa comunidade e corpos como tendências descartáveis. Nós também somos gordas. E sabemos que corpos reais URGEM por representatividade.

Mas retornando ao Vancouver Fashion Week, na segunda parte de desfiles tivemos as marcas Unserten e AyLelum.

Unserten:

Como o próprio nome da marca propōe, unserten é um trocadilho com a palavra em inglês 'uncertainty'  que significa incertezas. A marca procura por uma moda autoral e não convencional.

Na catwalk (você sabia que catawalk é o termo em inglês para se referir à passarela?!) a marca trouxe uma assinatura gótico-punk, remetendo aos figurinos assinados por Jean-Paul Gautier nos filmes do Almodóvar na década de 90. Assista os figurinos sanguinolentos de Kika com seus tons de vermelho e preto e compare com a proposta da marca. Obviamente unserten possui uma característica gótica autoral mais sombria do que as alegorias do Jean-Paul Gautier. A designer explora formas e cortes com o uso de tecido longos escuros e lisos. O acessórios são estranhos e inconvenientes, mas ao mesmo tempo com uma estética fascinante.

Ay Lelum:

É uma marca com raízes indígenas Canadense da regiāo da Columbia Britânica, mais precisamente Nanaimo na ilha de Vancouver. O desfile foi o único dos assistidos onde vimos modelos plus size e representaçōes com modelos mais maduras. Ainda corpos gordos menores, mas a marca se propōe a fazer peças até o 5XL. Na passarela elas vieram representado peças celebrando estampas com simbologia indígena e desenhos característicos dos povos originais da região. As peças possuem cortes simples mas são de uma beleza impressionante com suas cores vibrantes e estampas conceituais.

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É sempre bom poder participar de eventos como esse para estudar as tendências e procurar inspiraçōes. Infelizmente, apesar de mais inclusivo do que ediçōes anteriores ainda é um espaço segregador para pessoas maiores, tanto na sua organizaçāo quanto na exibição, curadoria de peças, designers e modelos.

 Quem sabe em próximas ediçōes a catwalk.plus poderá exibir suas peças mais inclusivas com corpos maiores? Para isso ser possível contamos com a sua colaboração. Nos ajude a apoiar a nossa comunidade visitando nosso site, contribuindo com a divulgação no boca-a-boca e em mídias sociais. Você também pode ajudar comprando nossos vestidos e acessórios. Garanto que você não vai se arrepender com a experiência!

Ajude a fortalecer marcas pequenas que apoiam a real inclusão.


Até a próxima.

Equipe Catwalk.plus

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